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A Gênese  |  Caráter da Revelação Espírita   |  Capitulo I   |  01/10/2001
CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA IV
OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O ESPIRITISMO

Por Allan Kardec, autor de "O Livro dos Espíritos"

CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA - I V

Dos raciocínios já desenvolvidos, ressalta o fato de que o Espiritismo, como revelação, tem duplo caráter: participa, ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. Tendo sido providencial o seu aparecimento e não o resultado da iniciativa ou de qualquer premeditação do homem, participa, por essa razão, da revelação divina. E isso também porque os pontos fundamentais da doutrina provêm do ensino dos Espíritos que, por Deus enviados, foram encarregados de esclarecer os homens acerca de coisas que eles ignoravam e que não podiam aprender por si mesmos e que lhes importava saber, sendo certo que hoje estão aptos a compreendê-las. Por outro lado, não sendo esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os seres que o transmitem, bem como os que o recebem, passivos, dispensados do trabalho da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, mas ao contrário, recomendado e porque a doutrina não foi ditada completa, nem imposta à crença cega; porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe dão, as quais estuda, comenta, compara, afim de tirar suas próprias conclusões e aplicações, participa o Espiritismo, por isso mesmo, da revelação científica. Assim, o que caracteriza a revelação espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua elaboração fruto do trabalho do homem.
             
As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental. Acreditou-se, então que esse método só era aplicável às coisas da matéria. No entanto é também aplicável às coisas metafísicas. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. Isso porque, como meio de elaboração o Espiritismo procede, exatamente, como todas as ciências positivas, aplicando o método experimental. Apresentam-se fatos novos que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele os observa, compara, analisa e partindo dos efeitos busca as causas, chegando às leis que regem esses fatos. Aí, deduz-lhes as conseqüências e procura suas aplicações úteis.
             
O Espiritismo não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência dos Espíritos e a sua intervenção, nem o perispírito, nem a reencarnaçào, nem qualquer dos princípios da doutrina; concluiu pela existência dos espíritos quando essa existência ressaltou evidente da observação dos fatos, procedendo de igual maneira quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori confirmar a teoria: a teoria é que veio, subseqüentemente explicar e resumir os fatos.

Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual. Ora, como este último princípio é uma das forças da Natureza, a reagir incessantemente sobre o princípio material e reciprocamente, segue-se que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro. O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha impossibilitada de explicar certos fenômenos, só pelas leis da matéria; ao Espiritismo, sem a ciência, faltariam meios de comprovação. O estudo das leis da matéria tinha de preceder o da espiritualidade, porque a matéria é a que primeiro fere os sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das descobertas científicas, teria abortado, como tudo quanto surge antes do tempo.

As ciências nascem umas das outras, na proporção que acham ponto de apoio nas idéias e conhecimentos anteriores. Todas se encadeiam e sucedem em ordem racional. A Astronomia, uma das primeiras cultivadas, conservou os erros da infância, até o momento em que a Física veio revelar a lei das forças dos agentes naturais; a Química, nada podendo sem a Física, teve de acompanhá-la, de perto, para depois prosseguirem ambas de acordo, amparando-se uma à outra. A Anatomia, a Fisiologia, a Botânica, a Mineralogia, só se tornaram ciências sérias com as luzes que lhes trouxeram a Física, e a Química. Sem a Astronomia, a Física, a Química e todas as outras ciências, a Geologia não poderia ter se desenvolvido; ela só podia vir depois daquelas.

Para os antigos havia quatro elementos primitivos. A Ciência moderna os abandonou e, de observação em observação chegou à concepção de um só elemento gerador de todas as transformações da matéria; mas a matéria, por si só é inerte; carecendo de vida, de pensamento, de sentimento precisa estar unida ao princípio espiritual. O Espiritismo não descobriu, nem inventou esse princípio; mas foi o primeiro a demonstrar-lhe, a existência por provas irrefutáveis e nunca contundidas. Estudou esse princípio e tornou sua ação evidente. Ao elemento material juntou o elemento espiritual. Elemento material e elemento espiritual, esses os dois princípios, as duas forças vivas da natureza. Pela união indissolúvel deles se explicam fatos até então inexplicáveis. (Entenda-se, aqui elemento como parte constitutiva de um todo e não no sentido de corpo simples, elementar)

O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na maior parte das ciências; só podia, portanto, vir depois da elaboração delas; nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo se explicar com auxilio apenas das leis da matéria.

Denizart Castaldeli
Outubro / 2001
 
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