17 — "(...) Pode o homem conhecer o princípio das coisas?".

           — "Não. Deus não permite que tudo seja revelado ao homem, aqui na Terra".

           Conhecer princípio significaria ter noção, saber identificar o momento exato em que algo tem origem, começa, inicia.

           No capítulo anterior, estudamos Deus ressaltando-se do que só podemos percebê-lo pelos efeitos. Ali como aqui a resposta é um não taxativo refletindo que o perispírito, embora invisível, é matéria ainda muito grosseira para certas percepções. Esse envoltório se espiritualiza à medida que a alma se eleva em moralidade. As imperfeições são como véus que obscurecem, dificultam, impedem ver claramente. Cada detalhe inferior, porém, que se desfaz, é como que um véu a menos, de modo que só depois de ter se aperfeiçoado totalmente é que disporá das faculdades em plenitude que lhe permitirão entender.

           Reparamos, entretanto, que Allan Kardec não perguntou se o Espírito pode conhecer, e sim, se o homem, encarnado hoje em estágio evolutivo, ainda insipiente pode fazê-lo.

           A resposta continua sendo não e diz respeito a todos que estão encarnados ou desencarnados na atmosfera da Terra, pois trazem estes as percepções limitadas pelas pessoais imperfeições, pelas condições do planeta, próprias a abrigar esses Espíritos que ainda mantêm estreita vinculação com uma retaguarda de sombras, na qual ao invés de escolher no Bem, ainda permanecem ou desenvolvem o orgulho e o egoísmo.

           " (...) A viagem evolutiva recorda-nos uma estrada quilometrada com diversas vias secundárias que aumentam a distância em relação ao destino. Assinalada por vários sítios de descanso e espairecimento para a contemplação da paisagem pode ser percorrida sem parada ou através de estágios... A meta será fatalmente alcançada, embora a cada viajante, seja facultado fazê-lo com maior ou menor rapidez. Em cada fase do percurso é permitida a renovação de forças ou aumento de tensão emocional, que o interesse individual elege como de preferência. Os Espíritos, portanto, avançam, conforme as motivações que os estimulam. Como são inúmeras estes, variadíssimo são os meios de que se utilizam para o crescimento, demorando - se, incontáveis, prazerosamente, nas faixas mais grosseiras do processo de desenvolvimento. Não cessam os socorros que lhes chegam, graças aos Missionários do progresso, que os visitam e estimulam, ensinando-lhes a valorizar os tesouros da vida que podem multiplicar a".benefício próprio.¹1

           A opção, portanto, pelos atalhos retardam a evolução intelecto moral, impedindo, cerceando, limitando um entender mais amplo.

           Recorde-se que para alçar-se à categoria de Puro Espírito, há longa jornada na qual deve adiantar-se em paralelo, o conhecimento e a moralidade. "(...) Se ele não progrediu senão num sentido, é necessário que o faça no outro, para chegar ao alto da escala" ².

           O caminho evolutivo não se realiza desse modo simultaneamente em todos os sentidos; "(...) num período, ele pode avançar em ciência, num outro em moralidade".²

           O campo intelectual, por levar à compreensão do bem é do mal, desenvolver o livre-arbítrio, deve conduzir ao progresso moral que não acontece de imediato, mas sim, passo a passo. " Até que tenham desenvolvido o senso moral eles podem servir-se da inteligência para fazer o mal. A moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo".²

           Explica-se aí o fato de que, apresentando-se o Homem intelectualmente desenvolvido, ainda se compraz nas opções inferiores, lesa outros, caminha em meio a disparidades sociais chocantes. Se moralmente mais adiantado, os extremos entre falta e supérfluo, estariam diluídos em equilíbrio ético.

           No atual estágio, atendo-se aos desvios da rota, embora científica e tecnologicamente desenvolvido, o próprio homem se circunscreve em limites. Se lhe fosse dado tudo conhecer, por não ter como conquista os valores morais, usaria o saber, não para colocá-la a bem do outro, mas para usurpar, dominar, fazer sofrer, enfim.

           Conclui-se que, à medida que se renova, que se educa no bem, o próprio homem se abre em percepções mais e mais abrangentes circunscritas, entretanto, ao mundo em que está encarnado.

           Quando, por seus próprios esforços atingir o estágio máximo de conhecimento e moralidade, terá "(...) superioridade intelectual e moral absoluta, em relação aos Espíritos das outras ordens ²". 

           Nesse momento, sua noção, seu conhecer em relação a tudo será totalmente diferente da ideia limitada e cerceadora dos tempos que já ficaram no passado.

2- KARDEC, Allan - " O Livro dos Espíritos" - LAKE - São Paulo - SP - 38°ed - 1978. q. 192 - pág 130 q. 365 - pág 186 q. 780 - 780 a 780 b - pág 317 e q. 112 - pág 100