Nesta matéria nosso tema pede que nos atenhamos a dados biográficos que podemos organizar por fases.

     A primeira abrangerá desde o nascimento até a idade de cinquenta anos, tempo em que foi conhecido como Hippolyte Léon Denizard Rivail. Nesta lembraremos que nasceu em Lion, no dia três de outubro de 1804 recebendo o nome acima e sendo seus pais o juiz Jean Baptiste-Antoine Rivail a Sra. Jeanne Duhamel. Aos seis anos inicia seus estudos na célebre escola de Pestallozzi, em Yverdun na Suiça. A instrução e educação recebidas marcaram profundamente a vida futura do jovem Rivail. Tornou-se educador entusiasta do ensino, convidado várias vezes para assumir a direção da escola quando das viagens do Professor. De 1824 a 1854, dedicou-se inteiramente à Educação sendo autor de várias obras didáticas que muito influenciou e contribuiu, naquela época, para o progresso das atividades educacionais. Fundou o Instituto Técnico Rivail, torna-se Diretor da Academia de Paris, leciona, escreve livros.

     Em 1831 conhece a jovem professora, poetisa Amélie com quem se casa em 1832. Em meio a situação da França, bastante complicada, e a imprudência de seu tio e sócio, que se tornara jogador, perde tudo levando o Professor a fechar o Instituto. Após todos os acertos, o que lhe restou, confiou a um amigo negociante, que, em investimentos inseguros, leva ele e a esposa a um segundo revés – perdem tudo – o que o leva a trabalhar tenazmente: de dia, contabilidade de três firmas; à noite, escrever livros pedagógicos. Passa a organizar cursos que um professor seu amigo dava em Saint Gérmain. De parceria com o professor Levy Alvarez, escreve mais duas obras e começa a lecionar no Liceu Polimático.  A Universidade de França adota seus livros. É reconhecido como “educador emérito”. Começa a lecionar gratuitamente em sua casa, cursos de Química, Anatomia Comparada, Física e Astronomia.

     A situação política da França é grave. Luís Felipe, o rei, é deposto; instala-se a segunda república. Napoleão é eleito e três anos depois, dá o golpe; é coroado como Napoleão III, instalando-se um tempo providencial caracterizando-se seu reinado até 1870, por tempo de abertura em todos os sentidos.

     Estamos em 1854. Hippolyte está com cinquenta anos, é membro consagrado de várias instituições francesas; possui cultura enciclopédica; fala vários idiomas; imensa curiosidade científica, experiência e detalhes outros que lhe serão de imensa utilidade nos fatos que irão compor o que designaríamos como uma segunda fase de um mesmo homem.

     Em 1855, Professor Rivail, pela primeira vez assiste a um espetáculo “das mesas que giravam, saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida”...

     Passa a observar... “Apliquei a essa nova ciência, como até então o tinha feito, o método da experimentação; nunca formulei teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as consequências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão” ... “ Entrevi nesses fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro, a solução do que havia procurado toda a minha vida; era, em uma palavra, completa revolução nas ideias e nas crenças; preciso, portanto,  se fazia, agir com circunspecção e não levianamente, ser positivista e não idealista, para não me deixar arrastar pelas ilusões”. 

     “Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber era limitado ao grau do seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal”. (O Principiante Espírita p.15/16).

     Grande transformação se opera na vida do Professor.  De 1855 a 1869 dedica-se ao aprofundamento dessas “descobertas”. Sob a assistência de Espíritos Superiores representados pelo Espírito de Verdade estabelece as bases da Codificação Espírita no seu tríplice aspecto: Ciência, Filosofia, Religião. Cria o neologismo “Espiritismo” representativo para esse novo conhecer, dando-lhe caracterização totalmente diferenciada de tudo quanto já existia em termos de ideias transcendentes. Em 18 de abril de 1857 edita “O Livro dos Espíritos” assinado com o nome de Allan Kardec, desvinculando assim a nova matéria, do prestígio que desfrutava como Professor Rivail.

     Além dos livros que decorrerão desse primeiro: “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno, “A Gênese”, que constituem o “Pentateuco Kardequiano”, escreve outros livros básicos à introdução doutrinária: “O que é o Espiritismo”, “O Principiante Espírita”, “O Espiritismo na sua Expressão mais Simples”, “Instruções Práticas sobre as manifestações Espíritas e “Obras Póstumas”. A estas juntam-se a “Revista Espírita” “...jornal de estudos psicológicos” ... Lançada em 1º de janeiro de 1858 em publicações mensais esteve sob sua direção por doze anos até 1869, ano da sua morte. Funda a “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas” instituição destinada a promover estudos que favorecessem o conhecimento da Doutrina Espírita. É considerada o primeiro Centro Espírita do mundo.

     Com a máxima “Fora da Caridade não há salvação”, procura ressaltar a igualdade entre os homens, perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência, a benevolência mútua.   

     “Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”.... a fé raciocinada que se apoia nos fatos e na lógica, não deixando qualquer obscuridade; crê-se porque se tem certeza e só se está certo, quando se compreendeu”

     Denominado por Camille Flamarion, célebre astrônomo de “...o bom senso encarnado”..., morre aos sessenta e cinco anos como viveu: trabalhando.

     Em seu túmulo, no Père Lachaise, em Paris, a frase que sintetiza a concepção evolucionista da Doutrina Espírita: “ Nascer, Morrer, Renascer ainda e Progredir sem cessar, tal é a Lei”.

Leda Marques Bighetti – Outubro/2017